Uma mulher da pele Preta, que tem a força de Ogum e os encantos de Oxum. Nascida e criada em Salvador Umbandista e afrocêntrica assumida Protegida pelo Axé da natureza e não mexe comigo, porque não estou sozinha!
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Os simpsons afro
Adoro essa família
Frases de Homer Simpson:
-"Se a culpa é minha eu coloco ela onde eu quiser!"
-"Eu não sou normalmente alguém que ora, mas se você estiver aí em cima, por favor me salve, Superman.”
-“Não vamos entrar em pânico. Vou conseguir dinheiro vendendo um de meus fígados. Posso viver com um só”
-"Por que coisas que acontecem com gente burra sempre acontecem comigo???"
Tentem superar esse poço de sabedoria!!!
-“Não vamos entrar em pânico. Vou conseguir dinheiro vendendo um de meus fígados. Posso viver com um só”
-"Por que coisas que acontecem com gente burra sempre acontecem comigo???"
Tentem superar esse poço de sabedoria!!!
domingo, 8 de dezembro de 2013
Canto para Oxum (Oro mi maió)
Trabalho de União Amorosa na linha de Oxum
Para quem interessa saber realizo Adoçamento dos casais para União Amorosa para as Yabás Oxum e Yemanjá não se trata de uma simpatia e sim OFERENDA com o melão que é a fruta preferida de mamãe Oxum, (fruta da fertilidade) Simpatias e Oferendas são coisas bem distintas, pois gosto de dá comida e bebida como súplicas para termos nossos pedidos atendidos porque Orixá alimenta-se da força da energia emanada, assim damos luz e evolução pra eles no plano astral e firmamos a ligação afetiva e harmoniosa com eles, assim, nossos pedidos chegam mais rápidos porque há uma troca de energia e desempenho.
E não uma simpatia que prolifera palavras repetitivas tentando ordenar ao Orixá te trazer de bandeja o seu pedido. Tem que gostar e querer zelar!
Não podemos ser interesseiros em só pedir e nada dá, até porque no Candomblé e Umbanda tudo se come até os atabaques (instrumentos sagrados) são postas comidas pra eles e precisam desta energia dos alimentos para se manifestar. Tudo é muito vivo!!!
E Oxum a Orixá do amor e da riqueza merece ser bem cuidada.
Hoje é o dia dela e sonhei com ela esta noite e muitas crianças a minha volta... Saudando Mamãe Oxum Apará. Ora Yêyêô!!!
Lembre-se de mim minha Deusa. Dos nossos segredos...
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Nosso Madiba
Não estou de luto porque ele viveu tudo que tinha que viver e mais além... estou orgulhosa de ter tido este semideus como exemplo na minha vida. Ele cumpriu seu propósito, fez do seu sonho uma realidade para muitos, conquistando sua própria terra.
Viveu quase um século por uma causa tempo mais que o suficiente pra fazer grandes e importantes feitos inesquecível. Homem nobre, um herói na etnia negra. Agora é só descansar meu Rei e terá um funeral digno de uma majestade e espero pelo menos em outra vida te conhecer pessoalmente... nós veremos logo a diante... Axé!!
domingo, 17 de novembro de 2013
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Música: Os representantes da identidade negra
Ao analisarmos como a revista Raça apropria-se do discurso dos artistas para possibilitar uma identidade cultural entre os leitores, servindo de base para encontrar meios para uma identificação, verificaremos como a revista trata de assimilar alguns estilos musicais e seus respectivos músicos no processo da afirmação cultural. Segato e Carvalho (1994, p.08) analisam que em muitos casos constata-se que a transformação da música em símbolo emblemático da identidade do grupo é uma função do poder.
Entendendo uma identidade como, ao mesmo tempo, ideia e sentimento de pertencimento a um grupo, o qual se une em torno de uma série de representações, tendo este conceito como principal ponto para esta análise . Para se relacionar com o mundo real, cada cultura constrói, a partir das práticas sociais, representações deste, as quais acabam orientando as suas práticas sociais.
Como já foi mencionado anteriormente a identidade étnica ou identificação étnica "refere-se ao uso que uma pessoa faz de termos raciais, nacionais ou religiosos para se identificar e relacionar-se aos outros" (Oliveira, 1976). Assim, a identificação étnica possui uma característica de auto-atribuição e atribuição por outros. A partir disso, quando as pessoas se valem da identificação étnica para classificar a si próprios e aos outros com propósitos de interação, elas formam grupos étnicos em seu sentido de organização (Silva, 1993, p.40). O que interessa, então, é tentar perceber tais conceitos dentro do contexto em estudo.
A revista Raça Brasil nas suas publicações sobre os músicos sempre tenta colocar nas suas linhas um discurso de autoafirmação da raça negra, publicando perguntas ou respostas que têm esse caráter identificador, como acontece nesta entrevista com cantor Seu Jorge Nosso Jorge (Edição 91 - Outubro/2005). A revista diz em destaque o seguinte: "Aos 35 anos, o ator e músico atinge seu melhor momento na carreira. Lota casas de espetáculos na Europa, grava CD em Paris e ainda atua em filme de Hollywood. Sua maior glória, diz ele com orgulho, é ser negro, brasileiro e reconhecido no exterior". A revista Raça opera como um espelho frente a classificações e a necessidade de fazer se identificar frente aos outros e ao olhar dos outros.
O mesmo tipo de publicação é colocado na entrevista com a cantora Vanessa da Mata, entrevista de nome Com vocês, Vanessa da Mata (Edição 95 - Fevereiro/2006), ao publicar o preconceito sofrido pela cantora, que diga-se de passagem, partido por outras meninas negras. A revista publicou o seguinte comentário:
"[...] única vez que ela enfrentou algum tipo de preconceito no Brasil partiu de meninas negras e por causa de um assunto batido, mas que ainda incomoda muitas mulheres negras: o cabelo. "Eu estava saindo do supermercado quando umas meninas começaram a gritar: "Vai pentear o cabelo!". Na hora eu ria muito e gritava "Eu sou neguinha, minha filha". Mas você acaba descobrindo que se trata mais de um problema social e cultural, porque se você vai num lugar super-chique, as pessoas adoram o meu cabelo", argumenta. Ela diz que só alisou os cabelos uma vez aos 15 anos, mas depois que se entendeu por gente, nunca mais precisou disso [...]" ( Com vocês, Vanessa da Mata, Edição 95 - Fevereiro/2006).
De outro lado, entendemos que as políticas de identidade estão articuladas ao que Hall (1996) identifica como uma política de representação - um envolvimento dos sujeitos para reclamar alguma forma de representação. É a partir de um espaço, que pode ser identificado com o âmbito do local, que passam a aparecer novas representações, novos sujeitos, que mediante diferentes embates alcançam meios de falarem por si mesmos.
Duas questões passam a ser cruciais nesse contexto das entrevistas dos cantores Seu Jorge e Vanessa da Mata: a disposição de viver com a diferença e, de outro lado, a etnicidade.
Há um processo de significação e associação com símbolos já existentes no imaginário de um certo grupo uma realidade, assim, nunca é apreendida de forma pura, sempre é apropriada e simbolizada, consciente ou inconscientemente, pelos grupos que dela se aproximam. "É nesta atribuição de sentido que percebemos que as representações não são "ingênuas". Apesar de se proporem a uma aproximação com a realidade, sempre são influenciadas pelos interesses do grupo que a produz" (CHARTIER, 1990, p. 17).
Neste sentido, a revista utiliza opiniões e imagens dos artistas para publicar afirmações e acontecimentos para chegar de forma mais atenta a seu público, já que as pessoas gostam de saber sobre a vida das celebridades e assim possam ver estas afirmações raciais presentes na fala dos seus ídolos.
* Retirado da minha monografia: As representações
Sociais na Ressignificação da Identidade Ética do povo negro: no caso da revista
Raça Brasil. Defendida na semana da Consciência Negra
em 23 de novembro de 2006.
Música: Os representantes da identidade negra
Continuação...
Há também uma outra forma que a revista encontra para narrar a vida dos negros pobres através de alguns estilos musicais, a exemplo, estilo hip-hop, rap e funk, fazendo desses estilos musicais uma forma de apresentar um protesto feito por músicos que dizem representar a periferia.
Começaremos na análise da matéria Eles querem mudar o mundo (Edição 90 - Setembro/2005), que trata de mostrar a atriz Isabel Fillardis e o rapper MV Bill que dizem ter projetos paralelos, mas com o mesmo objetivo que é ajudar a população negra. Na matéria, a revista salienta que o rapper Bill recebeu da Unicef, em 2003 e 2004, reconhecimento como destaque do ano, por ser um dos rappers mais politizados dos anos 90 e publica o depoimento de Bill:
"Quando meus pais chegaram à Cidade de Deus, não havia facções criminosas estabelecidas, armamentos pesados. Cresci vendo a escalada do poderio das armas, das drogas e os bandidos cada vez mais jovens. Fui trilhando um caminho paralelo, por meio do hip hop, que foi a salvação para mim.", conta ele. "Minha marca foi a persistência em ser exceção dentro de uma regra que não me favorecia. Chega de nós, pretos, só sairmos na página policial. Vamos para a seção cultural de jornais e revistas" (Eles querem mudar o mundo Edição 90-Setembro/2005).
A revista trata de narrar a vida de MV Bill como uma forma de vida padrão de todos que moram em favela, que teve de largar os estudos para trabalhar e ajudar a família. E que foi através da música que sua vida mudou, mas não deixando de olhar para as suas raízes, o rapper MV Bill admite que sua inserção na mídia mudou de uns tempos para cá. Do estigma de criminoso que fazia apologia às drogas, à época do lançamento do videoclipe Soldado do Morro, Bill transformou-se em personalidade cortejada pela imprensa. "Isso não me seduz, não cria em mim um sentimento de superioridade em relação a ninguém. É importante lidar com a mídia, saber usá-la para a transmissão de nossas ideias".
MV Bill emenda: "Tenho que saber defender meus pensamentos. Precisei amadurecer discurso, fala, comportamento. As questões das quais trato não são para fazer carnaval". O rapper se orgulha de não cair na tentação da fama e ter raízes fincadas em sua comunidade. Consciente, também se gaba de ter levado a mídia para dentro da favela. "Fiz isso não só no Rio de Janeiro, mas em outras favelas no Mato Grosso, Ceará, Minas Gerais e Santa Catarina. Aprendi a dialogar com a mídia, a falar o português e o favelês, com pessoas de todas as classes sociais, de todas as raças".
Rosana Santos (2002) analisa que ao mesmo tempo em que os rappers atacam a mídia – nas músicas, nos discursos durante os shows e no dia a dia – eles precisam dela como canal de divulgação de sua arte e de suas ideias. E a revista Raça atua nesta posição de divulgar o trabalho destes músicos que tratam de falar a realidade que existe em nosso país, usando a figura de rappers conhecidos para falar desta identidade cultural.
Segundo Erving Goffman (1988), toda vez que uma pessoa estigmatizada alcança uma posição de prestígio social, geralmente recebe a incumbência de representar o grupo estigmatizado ao qual pertence. Da mesma forma, toda vez que uma pessoa que tem um estigma torna-se destaque por feito extraordinário é motivo de comentário em toda a sociedade. Assim, os membros de seu grupo, nessas ocasiões, tornam-se sujeitos a uma transferência do mérito ou demérito da ação do colega.
A revista usa o discurso metafórico do vocabulário musical para trazer à tona elementos de um discurso que é diferente - outras formas de vida que saem da classe média negra da exaltação do black is beautiful para ir para as periferias evidenciando uma outra representação, porém sendo uma representação superficial já que usa o discurso de cantores famosos para falar desta realidade em razão destes mesmo rappers ainda morarem na favela e terem tido uma vida difícil como todos os moradores da periferia. Como aconteceu nesse depoimento do rapper Rapin Hood ao novo cd do Bill:
"A quem interessar possa, MV Bill é um grande guerreiro, o mensageiro da verdade não está para brincadeira. Politizando o gueto, o militante Bill vai abalando as estruturas de um cenário cada vez mais triste aos olhos do jovem negro e pobre em nosso país. Saídas devem ser apontadas, a verdade deve ser mostrada e isso ele faz com muita competência, ritmo e poesia. Bases que eu teria usado, rimas que eu teria escrito, nossas mentes se identificam. Tamo junto e misturado, lado a lado nessa luta diária para que nem o meu , nem o seu filho sejam o próximo falcão. Deus o abençoe nessa caminhada, pois eu sei que na periferia o bagulho é doido. Fiquem na paz, liguem o som e aumentem o volume porque é Rapdubom" (Ensaio MV Bill e Depoimentos Edição 101 - Agosto/2006).
Eles atribuem a si mesmos o papel de "porta-vozes" da periferia, um dos elementos da identidade do estilo. Alguns deles se atribuem a "missão" de problematizar a realidade em que vivem através das músicas que cantam, com a pretensão de "conscientizar os caras" dos problemas e riscos que o meio social lhes impõe.
Segundo Waldemir Rosa (2005, p.17) "a representação é uma figura cognitiva baseada em uma herança histórico-cultural específica que busca imputar em uma outra realidade social". Rosa ainda explica que "a representação não é uma falsificação da realidade, esta se relaciona com a realidade a que se pretende explicar", (2005, p.17).
A revista usa a música para a construção de um discurso sobre a noção de identidade por parte sobretudo de jovens que moram em comunidades desfavorecidas se tornando algo de grande importância para a identidade dessa comunidade. Aliás, poder-se afirmar que a identidade deste espaço constrói-se especialmente através de representações musicais.
A revista volta a sintetizar tal afirmação ao publicar a matéria especial de 10 anos Raça (Edição 102 – Setembro de 2006). Esta afirmação está presente na voz da cantora Sandra de Sá, ao afirmar que o "Samba, funk, hi- hop. Estes e outros estilos musicais negros marcaram a cena cultural dos últimos 10 anos. Também trouxeram mais alegria ao país, aumentaram os lucros da indústria fonográfica e a conta bancária de artistas de origem humilde", explicando a posição atual do estilo funk "os funkeiros anônimos e pobres, entretanto, vivem na mira da polícia. Mas também ditam o ritmo das pistas de dança - da favela e do asfalto - e ocupam o dia das rádios de todo o país com a irreverência, o protesto debochado e o cotidiano das comunidades negras e desfavorecidas". Ao colocar desta forma a revista enfatiza a ideia de que música funk se apresenta para narrar o cotidiano da população negra favelada.
Segundo António Contador (2001), a música surge como um processo de identificação, e as suas formas narrativas, estabelece-se com a ficção das identificações por referência, reapresentadas nas histórias de vida, tornando familiares afinidades inventadas, e tornando circunstanciais proximidades derivadas de "lógicas culturais".
"A desterritorialização, no caso das culturas passa a ser transformada em termos de identificação cultural, onde com a difusão das suas produções, através dos meios de comunicação as comunidades espacialmente separadas podem considerar-se reunidas". (Célia Guimarães, 1998, p.248)
Joanildo Burity (2002) ressalta que a problemática da cultura é hoje um veio de discussão consagrado, que não apenas retrata uma orientação teórica no campo das ciências sociais, mas também reagrupa as preocupações, classicamente associadas à cultura em torno do tema da identidade. Essa orientação teórica diz respeito à compreensão de que a vivência social é sempre simbolicamente mediada, seja pelo discurso, seja pelas manifestações artísticas em sentido amplo, de modo que tanto se pode dizer que tal vivência é culturalmente construída, como dizer que a cultura é uma construção social, que interage de forma complexa com os diferentes lugares e práticas onde se situam ou por onde circulam os agentes sociais, dando sentido e direção - ou questionando-os a seus pertencimentos e ações.
* Retirado da minha monografia: As representações
Sociais na Ressignificação da Identidade Ética do povo negro: no caso da revista
Raça Brasil. Defendida na semana da Consciência Negra
em 23 de novembro de 2006.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
domingo, 27 de outubro de 2013
Griots
Griot, Griots ou contadores de histórias, vivem hoje em muitos lugares da África ocidental, incluindo Mali, Gâmbia, Guiné, e Senegal, e estão presentes entre os povos Mandê ou Mandingas (Mandinka, Malinké, Bambara, etc.), Fulɓe (Fula), Hausa, Songhai, Tukulóor, Wolof, Serer, Mossi, Dagomba, árabes da Mauritânia e muitos outros pequenos grupos. A palavra poderá derivar da transliteração para o francês "guiriot" da palavra portuguesa "criado". Nas línguas africanas, Griots são referidos por uma série de nomes: Jeli nas áreas ao norte de Mandê.
Numa cultura oral como a africana, o griot conserva a memória coletiva. Por isso, é costume dizer-se que "quando na África morre um ancião é uma biblioteca que desaparece". A figura do griot tem uma enorme importância na conservação da palavra, da narração, do mito. Na prática, eles funcionam como escritores sem papel nem pena. Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memória e no coração dos seus familiares e conterrâneos, no sentido de manter incrustada a identidade do seu ser e das suas raízes, fundamentada, em grande parte, no seu passado e nos seus predecessores.
Os griots são os guardiães, intérpretes e cantores da História oral de muitos povos africanos. Na língua mandinga são conhecidos como jali e na África Central como mbomvet. Todos eles possuem uma função social bastante semelhante e de grande relevância.
Os griots cantam a história épica da África e os mitos dos diferentes povos, ou elogiam os méritos dos heróis e personagens do passado, geralmente acompanhados por instrumentos musicais, como a kora ou o xilofone.
Os contos da velha Neném
Minha avó e o padrasto do meu pai |
Minha falecida avó, a matriarca da família Tavares, Dona Maria Domingas, era a Griot da família, nascida em 22 de dezembro de 1917, em plena primeira grande guerra mundial e viveu na era de Virgulino Lampião, o rei do cangaço, que segundo ela, - "esse povo não prestava". Mulher, negra, era lavadeira, morava no bairro da barra e anos depois mudou-se para o bairro da federação. Tinha uma lucidez invejável e se lembrava de datas, nomes e sobrenomes das pessoas que a cercavam, detalhes de roupas e acontecimentos.... Ela me contava muitas histórias da sua vida as vezes até sozinha ela conversava e ria muito de todas.
Adorava ir para o quarto dela, me deitava no chão e ficava ouvindo suas lembranças de quando era mocinha, dos seus namoradinhos (e como namorou viu), da sua devoção por Santo Antônio daí o nome do meu pai, pois foi uma promessa que ela fez aos pés do tal santo na igreja aos 15 anos, pedindo que tivesse um filho bem no seu dia que lhe daria o seu nome, e assim foi, no dia 13 de junho de 1947 nasce o seu quarto filho o meu genitor Antônio Carlos.
Foi mãe de 5 filhos de 3 pais diferentes até a sua morte restaram 2 filhos vivos, sendo meu pai o que a acompanharia por toda a sua vida. Ela se orgulhava de ter conseguido realizar seu maior desejo na vida que era de se casar na igreja e conseguiu depois de três fracassados relacionamentos, aos 55 anos casou-se com Joaquim Roque da Silva, não era o meu avô biológico e nem cheguei a conhecê-lo, mas foi o pai que meu pai teve. E segundo ele, era um homem muito bom que respeitava minha avó, mas com este não teve nenhum filho!
Lembro da minha avó se gabando da sua beleza jovial, dos seus grandes cabelos e de como os prendia, das panelas de barro que ela quebrava escondido porque não gostava de cozinhar nas malditas panelas. Das cirandas de roda que ela participava e também da sua vida sofrida...perdeu a mãe ainda criança aos 6 anos, sendo criada por uma mulher conhecida da família, ou melhor, morava de favor e era feita de empregada; a tratavam na rédea curta, deixavam dormir no chão, minha avó contava que comeu o pão que o diabo amassou com ela!
Passou fome e foi muito humilhada na vida, a vergonha de ser mãe solteira era a pior humilhação naquele sociedade arcaica, onde a mulher só era valorizada se tivesse um homem ao lado e se casa-se aos pés do padre na igreja.
Já adulta, tomava seus porres para minimizar as angústias que segundo ela, já bebeu muita cachaça de erva doce para esquecer a pobreza e a falta de comida na mesa a fazia comer fruta pão com pimenta para poder ficar de pé e lutar por uma vida melhor, que chegou...graças ao filho da promessa que fez a santo Antônio, que cedo começou a trabalhar para ajudar a família. Meu pai conta que foi uma vida de sofrimento, mas não deixava de ir para a escola, ele diz que as lembranças doem, que ficam amargando a vida e que ainda hoje chega a ter pesadelos!...
Me vem à memória a sua linguagem própria - Ô dia que me rir, ou então, - Eu me apoquentei!.. A minha avó era uma torcedora do vitória fanática e ficava batendo na madeira quando - O tar-le do Bahia como ela chamava pegava na bola em jogos do BaVi e toda hora gritava - Bora vitória!!!! Ela ficava ouvindo os jogos com o seu radinho a pilha, confesso que ficava com uma raiva desses barulhos.
Recordo-me dela assistindo o jornal e sempre falava a mesma coisa - A polícia de São Paulo não tem sossego! E quando à noite caia ela dizia - Já turvou, à noite só é boa para quem namora!
Possuía um grande vigor físico, já conseguiu entortar uma chave ao abrir a porta e carregava sem inclinar as costas uma caixa com 10 leites em líquido. Uma vez ela foi ao banco receber o dinheiro da sua aposentadoria e na hora de assinar o seu nome a mulher já foi pegando na sua mão para ajudá-la e ela então puxou a caneta retrucando: - Dê cá a caneta minha filha, porque eu não fugir da escola não! Até o seus 80 anos mesmo com catarata nos dois olhos e sem usar óculos ela lia livros, enxergava letras miúdas e o médico oftalmologista falou - Isso é o instinto!
O que mais eu gostava de ouvir era seus contos sobre a vivencia do candomblé e umbanda ela que foi iniciada apenas com uma surra de folha e incorporava o caboclo chamado Rei das Flores e uma Erê de nome Crispiniana.
Passou fome e foi muito humilhada na vida, a vergonha de ser mãe solteira era a pior humilhação naquele sociedade arcaica, onde a mulher só era valorizada se tivesse um homem ao lado e se casa-se aos pés do padre na igreja.
Já adulta, tomava seus porres para minimizar as angústias que segundo ela, já bebeu muita cachaça de erva doce para esquecer a pobreza e a falta de comida na mesa a fazia comer fruta pão com pimenta para poder ficar de pé e lutar por uma vida melhor, que chegou...graças ao filho da promessa que fez a santo Antônio, que cedo começou a trabalhar para ajudar a família. Meu pai conta que foi uma vida de sofrimento, mas não deixava de ir para a escola, ele diz que as lembranças doem, que ficam amargando a vida e que ainda hoje chega a ter pesadelos!...
Me vem à memória a sua linguagem própria - Ô dia que me rir, ou então, - Eu me apoquentei!.. A minha avó era uma torcedora do vitória fanática e ficava batendo na madeira quando - O tar-le do Bahia como ela chamava pegava na bola em jogos do BaVi e toda hora gritava - Bora vitória!!!! Ela ficava ouvindo os jogos com o seu radinho a pilha, confesso que ficava com uma raiva desses barulhos.
Recordo-me dela assistindo o jornal e sempre falava a mesma coisa - A polícia de São Paulo não tem sossego! E quando à noite caia ela dizia - Já turvou, à noite só é boa para quem namora!
Possuía um grande vigor físico, já conseguiu entortar uma chave ao abrir a porta e carregava sem inclinar as costas uma caixa com 10 leites em líquido. Uma vez ela foi ao banco receber o dinheiro da sua aposentadoria e na hora de assinar o seu nome a mulher já foi pegando na sua mão para ajudá-la e ela então puxou a caneta retrucando: - Dê cá a caneta minha filha, porque eu não fugir da escola não! Até o seus 80 anos mesmo com catarata nos dois olhos e sem usar óculos ela lia livros, enxergava letras miúdas e o médico oftalmologista falou - Isso é o instinto!
O que mais eu gostava de ouvir era seus contos sobre a vivencia do candomblé e umbanda ela que foi iniciada apenas com uma surra de folha e incorporava o caboclo chamado Rei das Flores e uma Erê de nome Crispiniana.
Lembro dela me contando do quanto ela ajudou as pessoas fazendo as "mandingas", dos ebós que fazia e da sua paixão incondicional por Oxum, ela foi a primeira que me disse que tinha esta deusa das águas doce. De apelido Dona Neném, era filha de Nanã Buruku que é representada como a grande avó, deusa dos mistérios a mais antiga divindade das águas que representa a memória ancestral do nosso povo, Nanã sintetiza em si a morte, fecundidade e riqueza. Minha avó adorava fazer "trabalhos" em águas doce ou salgada e me dizia - As águas tudo pode e sempre me dava um único conselho: - Nunca levante uma folha para fazer mal a ninguém!
Lembro que eu ficava espantada e admirada com suas histórias sobre os deuses do panteão africano, foi ela a responsável por me encantar nesta religião. A velha Neném tinha uma personalidade forte, quando ela amanhecia com a pá virada, de bico pra cima, pra ela botar a mão na cintura, bater o pé e rodar a baiana era daqui pralí, quando ela amanhecia cantando a gente já sabia...lá vem a tsunami vez ou outra ela gostava de dá uns chiliques... (isso ela sabia fazer como ninguém) e quando eu era criança ouvia muito minha mãe dizer - Você parece com sua avó! E um dia Dona Neném falou - Você é mais de Ogum (querendo dizer que era dele minha cabeça) por isso que é assim desaforada, não mede pra ouvir, não mede pra falar!
Adorava conversar com ela e uma certa vez me sentei ao seu lado no quintal de casa e pedir para que me contasse sobre a árvore genealógica da família porque queria escrever sobre isso e quiçá um dia escrever a minha autobiografia, até parece que minha vida seria grande coisa!
Pois sim, Dona Domingas deixou saudades, ela partiu há 9 anos, aos 86 anos de idade, pegou uma gripe, onde um mês antes acordei sair do quarto e só vi o vulto de minha mãe passando e ainda sonolenta falei - Minha mãe sonhei que minha avó morreu dormindo e cair de sono novamente no sofá da sala e minha mãe respondeu - Deus é mais!
E foi assim, que no dia 10 de março de 2004 por volta das 03:00h da manhã ela faleceu na sua cama, ao lado da foto de Santa Luzia e meu pai (ateu diz ele convicto) conta que tinha acabado de sonhar com minha avó, que ela tinha chegado na porta do quarto dele, bateu o pé no chão como de costume chamando o nome dele se virou e saiu. Meu pai nessa hora acordou, foi até o quarto dela, colocou a mão nela e triste falou pra minha mãe - Olha Lourdes, ela foi agora, ainda está quentinha! Dona Maria Domingas não deu trabalho na sua velhice ela mesma lavava as suas roupas, dançava, saracutiava, comia de tudo e muito bem, dormia mais ainda, só foi uma semana para ela cair doente e falecer. E teve uma morte muito boa, e desejo ter uma morte igual a dela: morrer de velhice e dormindo, pois só os bons morrem assim.
E foi assim, que no dia 10 de março de 2004 por volta das 03:00h da manhã ela faleceu na sua cama, ao lado da foto de Santa Luzia e meu pai (ateu diz ele convicto) conta que tinha acabado de sonhar com minha avó, que ela tinha chegado na porta do quarto dele, bateu o pé no chão como de costume chamando o nome dele se virou e saiu. Meu pai nessa hora acordou, foi até o quarto dela, colocou a mão nela e triste falou pra minha mãe - Olha Lourdes, ela foi agora, ainda está quentinha! Dona Maria Domingas não deu trabalho na sua velhice ela mesma lavava as suas roupas, dançava, saracutiava, comia de tudo e muito bem, dormia mais ainda, só foi uma semana para ela cair doente e falecer. E teve uma morte muito boa, e desejo ter uma morte igual a dela: morrer de velhice e dormindo, pois só os bons morrem assim.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
É branco? Então o povo fica de luto
Fala sério, esse alarme da médica que matou o casal de irmãos só acontece porque eram brancos, bonitinhos e de classe média alta. Pois se fossem negros iriam dizer que ela fez isso porque tomou um susto por achar que fosse assalto e ainda a polícia iria averiguar se a moto era roubada. Porquê ninguém fez alarde da CRIANÇA negra que foi morta por bala perdida no bairro de pernambués? Sabe porquê? Não temos a revolta da sociedade a nosso favor. Acostumou-se a vê o negro morrer...
A imprensa e as redes sociais só falam sobre isso. Olhe morreu mais um negro alí, ninguém vai vê?
Emanuelle e Emanuel, morreram após sua moto ser atingido pelo carro da médica no bairro de Ondina. De acordo com testemunhas, Emanuel tinha discutido momentos antes com a oftalmologista após ser fechado pelo veículo dela. Em seguida, a médica teria perseguido os irmãos e o automóvel dela bateu na moto, projetando Emanuelle e Emanuel contra um poste.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Educação: O combate pelo discurso
A introdução e execução da disciplina de História e Cultura da África no currículo escolar Lei (10.639, aprovada em janeiro de 2003). Traz um discurso sobre a educação como uma medida para tentar representar uma possibilidade de mudança.
"Quando se fala em heróis, as crianças tendem a associar a palavra ao que estão acostumadas a ver nos desenhos animados e filmes. Das duas, uma: ou imaginam alguém irreal, com poderes especiais, ou alguém que deu a vida por uma causa ou por um povo. Ao usar este material, recomenda-se que o professor deixe claro que talentos especiais não são superpoderes e que dar a vida por uma causa não significa necessariamente morrer por ela. Ao compreender isso, os alunos vão começar a entender a grandeza de muitos personagens da história. Após apresentar os três escritores desta edição de Raça Educação, uma sugestão para o professor é pedir aos alunos que aprofundem num trabalho as biografias dos três escritores, falando também sobre a época em que esses personagens viveram. Dependendo da série dos estudantes, pode-se pedir que leiam obras desses três autores e façam uma exposição em sala de aula" (Heróis das Letras Edição 95 -Fevereiro/2006).
A revista, ao mostrar a forma de como esta disciplina deve ser abordada na escola, tem como interesse fazer com que os afro-descendentes se orgulhem da sua história sendo representada por intelectuais negros. Sobretudo um trabalho de valorização da cultura negra por meio da construção positiva da auto-estima das crianças negras.
Para Consuelo Silva (1995), é no contexto das interações sociais, através das identificações, que as crianças se percebem como parte do mundo social específico e, conforme o modo como são identificadas e tratadas pelos seus outros significativos, adquirem uma auto-imagem na qual moldarão sua identidade, pois é na socialização primária que a transmissão de valores e crenças dos agentes mediadores de seu grupo social influencia decisivamente na sua forma de pensar e agir.
Hall (2001, p.50-51) discorre que a cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos. Hall ainda argumenta que a identidade está profundamente envolvida no processo de representação, portanto neste quadro a forma que é colocada pela revista, é através da educação que pode-se desmistificar estereótipos que mantêm o preconceito racial, assim descobrindo formas de combater o racismo.
* Retirado da minha monografia: As representações
Sociais na Ressignificação da Identidade Ética do povo negro: no caso da revista
Raça Brasil. Defendida na semana da Consciência Negra
em 23 de novembro de 2006.
Educação: O combate pelo discurso
Já na questão da política de cotas ao publicar o artigo Ações afirmativas no Brasil uma questão de justiça para os negros (Edição 85 - Abril / 2005), a revista faz um discurso de justiça, alegando que o sistema de cotas é uma medida que levará a uma igualdade social no Brasil. Assim a revista abre um debate de que é preciso compreender as razões históricas da discriminação racial:
"A partir de 1822, após a Proclamação da Independência, o direito à educação primária gratuita foi incorporado na Constituição: "A instrução primária é gratuita a todos os cidadãos." Porém ela permaneceu proibida aos negros pelo fato de que estes não eram considerados cidadãos. No Império, os escravos e seus descendentes não podiam estudar e, mesmo que fosse um liberto, estava fadado a ser cidadão de segunda categoria[...]Após a caminhada em Brasília do movimento negro para reivindicar políticas públicas ao governo, em 1995, iniciou-se o reconhecimento da administração pública de que houve uma violência institucional racial no passado, de que há, no presente, uma desigualdade racial herdada deste período" (Ações afirmativas no Brasil uma questão de justiça para os negros Edição 85 Abril / 2005).
O discurso da revista justifica neste artigo a implantação do sistema de cotas como uma compensação para minimizar a distância econômica e social entre negros e brancos. Segundo a revista, o racismo, o preconceito e a discriminação racial mantêm e acentuam desigualdades históricas de classe e raça, no acesso à permanência na educação, na conquista e na qualidade do trabalho, na distribuição de renda, no acesso à justiça, dentre outras desigualdades. Fazendo das políticas públicas uma diretriz constitucional, a igualdade de fato e de Direito, já que o Brasil é o país com a mais longa história de escravidão das Américas. Observamos que a revista usa estes argumentos como estratégias discursivas para tornar o sistema de cotas relevante para a população negra.
O discurso da revista aponta para uma solução de que o único modo de combater o racismo seria definir políticas de ações afirmativas de cotas raciais para contemplar positivamente os negros, é a chamada criação de oportunidades para os afro-descendentes. Afirma-se que o princípio da igualdade deve ser interpretado em sua acepção material, ou seja, que a verdadeira igualdade é tratar desigualmente os desiguais. Como afirmou Rui Barbosa (1997): "A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade".
Nessa perspectiva, consideramos que a linguagem se manifesta a serviço do poder, sendo o discurso a realização da "linguagem como prática social", o debate das cotas na revista é uma forma de manifestação e de reprodução dessa luta anti-racista. Nesta teoria, o discurso é entendido como constituinte do social, como um modo de ação, pois é uma das maneiras pelas quais as pessoas podem agir sobre o mundo e sobre os outros, mas é também visto como uma forma de representação, pois nele valores e identidades são representados de forma particular. Os discursos são concebidos, não apenas reproduzidos, construindo de diversas maneiras, cada uma das quais posicionando os sujeitos sociais também de diferentes maneiras ( Fairclough, 1992).
* Retirado da minha monografia: As representações
Sociais na Ressignificação da Identidade Ética do povo negro: no caso da revista
Raça Brasil. Defendida na semana da Consciência Negra
em 23 de novembro de 2006.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
domingo, 13 de outubro de 2013
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Embalou minha adolescência...
Adão Negro
Chá, chá lá lá lá lá lá
Chá lá lá lá lá lá lá lá
Chá lá lá lá lá lá lá
Chá lá lá lá lá lá lá lá
Chá lá lá lá lá lá lá
Apartheid disfarçado todo dia
Quando me olho não me vejo na TV
Quando me vejo estou sempre na cozinha
Ou na favela submissa ao poder
Já fui mucama mas agora sou "neguinha"
"Minha pretinha, nós gostamos de você"
Levante a saia, saia correndo pro quarto
Na madrugada patrãozinho quer te ver oioi
Quando me olho não me vejo na TV
Quando me vejo estou sempre na cozinha
Ou na favela submissa ao poder
Já fui mucama mas agora sou "neguinha"
"Minha pretinha, nós gostamos de você"
Levante a saia, saia correndo pro quarto
Na madrugada patrãozinho quer te ver oioi
Chá lá lá lá lá lá
Chá lá lá lá lá lá lá lá
Chá lá lá lá lá lá lá
Chá lá lá lá lá lá lá lá
Chá lá lá lá lá lá lá
Será que um dia eu serei a patroa
Sonho que um dia isso possa acontecer
Ficar na sala não ir mais para a cozinha
Agora digo o que vejo na TV
Sonho que um dia isso possa acontecer
Ficar na sala não ir mais para a cozinha
Agora digo o que vejo na TV
Um som negro
Um Deus negro
Um Adão negro
Um negro no poder
Um Deus negro
Um Adão negro
Um negro no poder
Um som negro
Um deus negro
Um Adão negro
Um negro no poder
Likareggae
Um deus negro
Um Adão negro
Um negro no poder
Likareggae
Já dancei muito esta música nos espaços de shows pela cidade e o que mais me lembro é de um evento em especial (Garagem Rock) no TCA que acontecia no inverno, eu dançando com meu irmão e turma alternativa de sandália de couro e vestido indiano. A banda Adão Negro levantou o público, mas o mais esperado foi o show do Planet Hemp, inesquecível!!!!!! Éramos jovens, eu tinha 17 anos e a vida era encantada...
Com Serginho do Adão Negro o reggae ainda me toca... |
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Desabafo de tristeza...
Assistindo ontem o Domingo Espetacular da TV Record, onde moradores de rua tiveram seus sonhos realizados e confesso que odeio vê isso na TV porque eu nunca ganho nada (despeito mesmo). Me sentir no ímpeto de transcrever também minha aflição para vê se alguém ou algo me ajuda!
Tenho andado muito triste e cabisbaixa há meses não saio de casa, nem coloco a cara na rua (sério mesmo) passo os meus dias deitada no sofá da sala assistindo televisão na torcida para meu telefone tocar e eu sair desse drama que assola minha porcaria de vida. PRECISO DE UM EMPREGO!!!
Me encontro em uma situação muito sensível e difícil. Sensível porque a depressão anda me dando ideias mirabolantes, como por exemplo, tirar a minha própria "vida", pois não ando vivendo, só levando um dia atrás do outro sem esperança ou quando acho que sou uma covarde para tanto penso em colocar a mochila nas costas e virar verme de rua, sabe aquela comunidade que existia no Orkut? Se nada dê certo eu viro hippie? Pois bem, nada deu e acho que é essa a bendita solução, por certo uma pessoa de quase 30 anos morar na casa dos seus pais desempregada é pior que receber um tiro fatal, porque este, tira logo o seu suplício e ficar ouvindo humilhações, cobranças e xingamentos é nos matar lentamente e com muita dor, uma tortura.
É difícil porque não sei mais o que fazer? Não me resta mais um vintém na carteira para sair batendo em porta em porta o que me resta é ficar mandando currículo e fazendo cadastro de procura de vagas pela internet é muito difícil mesmo você ter pós-graduação e ter que se candidatar a uma vaga de vendedora em uma loja de shopping é insuportavelmente constrangedor (choro muito) e ter que esconder essa informação é a afirmação do fracasso, porque não me deixariam nem participar da seleção com a desculpa que não ficaria no trabalho porque logo aparecia coisa melhor e eu sairia. Então cadê essa COISA MELHOR que nunca aparece? Nem eu e nem meu currículo é tão ruim assim para não conseguir um trabalho na área de comunicação! Me sinto bem prepara para assumir um bom posto e grandes responsabilidades e é isso que almejo, assumir responsabilidades.
Sinto uma consciência muito madura para desempenhar tal grande função acho que isso vem com a crise dos 30 de querer crescer profissionalmente, de querer ter destaque na profissão, de querer bater asas e voar...voar...Pra onde? O infinito seria o meu limite... Quero sair da casa dos meus pais, morar sozinha, saber me virar. Sinto que já não tenho mais uma longa vida pela frente, estou envelhecendo e quero experimentar coisas novas da maturidade, sensações diferentes como diz na música da cantora Sandy "...E eu já tenho quase 30 acabou a brincadeira e aumentou em mim a pressa de ser tudo o que eu queria e ter mais tempo pra me exercer...E há pouco tinha quase 20 tantos planos eu fazia e eu achava que em 10 anos viveria uma vida e não me faltaria tanto pra ver..."
Sei que posso angariar um bom posto em qualquer empresa, mas me falta uma oportunidade! Uma INDICAÇÃO! Porque sem este passaporte não passo na alfandega serei barrada o tempo todo. Aí mora um problema! Sou orgulhosa demais para ficar pedindo emprego para os meus conhecidos/amigos já tentei com alguns, mas quando sinto que desconversam não insisto no assunto, alguns já me ajudaram como pôde, outros depois que conseguiram um cargo melhor me esqueceram, mais tudo bem não se pode exigir amizade eterna de ninguém, acontece! E além eu não ando me socializando tanto, me enclausurei em casa, não ligo para ninguém e poucas vezes quando meu telefone toca não quero atender visto que sei que exatamente o que irão falar: - Nunca mais te vi, você sumiu! E aí já casou? Já está com filho? Esta trabalhando na sua área? E com essas mesmas perguntas fico envergonhada e desanimada de responder NÃO para todas, então prefiro me isolar.
As vezes penso em desistir de tudo, da vida e as vezes me sopra um tantinho de esperança que irá acontecer uma reviravolta em minha vida e tudo irá para o devido lugar, mais já estou cansada de esperar, vejo muitos amigos com a sua vida encaminhada, em bons empregos, comprando suas casas, constituindo família, progredindo, avançando e enquanto eu fico parada, indolente, sem rota e nem direção. Será que nadei tanto pra nada? Passo as noites em claro, ou melhor, no escuro, no silêncio da madrugada com meus pensamentos e digo em verdade que neste momento eu fico em paz, me sinto bem quando escuto o silêncio até pegar no sono, pois que surge a manhã e quando abro os olhos me ataca uma profunda tristeza ao lembrar que terei mais um dia de inércia igual ao anterior, este é o pior momento do dia, quando acordo do meu sono, que pelo menos nele eu estava em paz e penso que esta seria uma solução de estar feliz... um sono eterno...
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
As Representações Sociais
Ao observar a sociedade podemos olhá-la pelo viés das representações. Tudo depende de um lugar, de onde está esse conhecimento, de onde vem, que saberes carrega e as relações que estabelece com o mundo que o cerca. O conteúdo do processo representacional está ligado a um tipo de conhecimento e só a relação intersubjetiva proporciona a compreensão das representações. Esse processo implica a existência e a relação entre um sujeito, um objeto e outros sujeitos. Se quisermos entender como isso funciona é preciso entender as relações entre esses elementos.
Segundo Jürgen Habermas (1989), o processo de representação passa por uma ação comunicativa que prevê um sujeito, um objeto, um contexto e um tempo histórico.
Considerando esse contexto, os saberes e os conhecimentos não têm propriedade individual, mas social, e as representações funcionam como processos, através dos quais o conhecimento é produzido e transformado.
As representações sociais nasceram da ideia original das representações coletivas de Durkheim – para quem a vida é feita de representações sociais – e ganharam forma definida em Serge Moscovici. Para ele, as questões sociais relacionam-se diretamente com a difusão das mensagens pelos veículos de comunicação, ligadas a um contingente de elementos que se processam no cotidiano por meio de teorias, ideologias, experiências e vivências.
As representações, do ponto de vista de Moscovici (2003, p.46), não devem ser olhadas como um conceito, mas como um fenômeno. "Devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o que nós já sabemos". Para o autor, deve-se "[...] considerar as representações como meios de re-criar a realidade".
[...] Para ser preciso, contudo, deve-se dizer que se trata de algo refeito, re-construído e não de algo recém-criado, pois, por um lado, a única realidade disponível é a que foi estruturada pelas gerações passadas. [...] O que nós criamos, na verdade, é um referencial, uma entidade à qual nós nos referimos, que é distinta de qualquer outra e corresponde a nossa representação (Moscovici, 2003, p.90).
A representação social é um tipo de saber que é ação social e é também ação comunicativa. Todo o saber, na sua origem, é um saber local, porque depende de um lugar. As mídias funcionam como lugares onde estes saberes são representados. Mas estes saberes só podem se deslocar de seu lugar local para se transformar em saber universal se tiverem poder e legitimidade.
As representações na mídia podem não ser puramente ideológicas. Justamente vão além do ideológico porque produzem outras funções como, por exemplo, criar identidade. É nestas condições que adentra o discurso da revista Raça Brasil, colocar a vida do negro nas suas páginas para que sinta-se pertencente a esta cultura simbolizada através de um meio de comunicação, fazendo com que este grupo se torne próximo e familiar do seu discurso para que os leitores assimilem e se encontrem dentro deste discurso e passem a pensar da mesma forma.
A revista usa seu discurso como um recurso para a criação de um nós coletivo - os afro-descendentes, onde este discurso do nós é tratado às semelhanças do seu grupo social fazendo com que os afro-brasileiros se descubram enquanto pertencentes à fala da revista e assim fazendo com que os leitores conheçam a trajetória da sua ancestralidade, levando-os a uma reflexão sobre a cultura afro-brasileira e assim construindo sentidos com os quais podem se identificar, construindo identidades.
A revista Raça é um meio de representação e por representação Stuart Hall (2001, p. 50), explica que é através do discurso que são construídos sentidos que influenciam e organizam tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos. Sendo a revista um meio voltado para despertar uma consciência étnica nos seus leitores, tendo o propósito de recontar a história do povo negro, dando em suas publicações informações cruciais sobre o papel dos negros no desenvolvimento deste país. A exemplo, da publicação da matéria Nossa história, enfim contada (Edição 87 - Junho/2005), que mostrou uma exposição com documentos, fotos e obras de arte expostos no Museu Afro-Brasil, em São Paulo, evidenciando o negro como integrante ativo na construção da nação brasileira. Segue abaixo parte da publicação da matéria:
"Apague tudo o que você conhece sobre a História do Brasil. Ou quase tudo, já que a versão ensinada na escola sobre a formação da nação brasileira, em geral, desconsidera a participação ativa dos negros na construção do País. Na literatura que se conhece sobre a colonização do Brasil pelos portugueses, o índio é visto como um ser que aceita pacificamente a imposição da cultura e da religião européias e que não se adequa ao esquema de trabalho imposto. O negro, no entanto, é tido ora como passível de pena, por aceitar sua condição de escravo, ora como rebelde fujão, que constrói os quilombos e sofre as conseqüentes punições. Mas quase nunca é mencionado que negros e índios fizeram parte da vida social do País desde a sua formação. "Foram os negros que extraíram o ouro na mineração, cultivaram a cana-de-açúcar e o café, cuidaram do gado e do fumo", lembra Emanoel Araújo, 63 anos, diretor e criador do Museu Afro-Brasil, em São Paulo" (Nossa história, enfim contada Edição 87 - Junho/2005).
A intenção desta matéria é justamente recontar a história do negro com um novo olhar, ilustrando através desta exposição as raízes africanas, a vinda dos negros para cá e a participação na vida cotidiana nestes cinco séculos de Brasil. Acompanhe a seguir trechos do roteiro que a reportagem da Raça Brasil percorreu nesse mergulho no tempo:
"Os objetivos deste trabalho estão lá: "Registrar, preservar e argumentar, a partir do olhar e da experiência do negro, a formação da identidade brasileira...". Em seguida, iniciamos a caminhada em busca de nossas raízes. A primeira parada é uma coleção de máscaras vindas do continente africano, cuja vedete é a Cabeça Nok, artesanato confeccionado pelo povo Nok, que viveu entre 500 a.C. e 500 d.C., e a peça mais antiga do museu. O Núcleo África ainda dedica um espaço para as mulheres, por meio de poemas e esculturas que representam divindades femininas.[...] Além de cuidar das tarefas domésticas, as escravas denominadas amas-de-leite alimentavam os filhos de seus donos. Também estão lá imagens de negros que acabavam morrendo de tanta tristeza e saudade de casa (banzo) e os objetos de aprisionamento e tortura dessa gente. Nesse momento da visita, a miscigenação é lembrada por meio da alimentação: o acarajé, o caruru, o xinxim e o feijão-de-azeite são heranças africanas" (Nossa história, enfim contada Edição 87 - Junho/2005).
Parafraseando Elisa Larkein, "quando se tem por objetivo aprofundar o conhecimento e a reflexão sobre a cultura afro-brasileira, a referência à África não deve ser entendida como volta ao passado, mas como necessidade fundamental para a construção de uma identidade própria".
De acordo com Hall (2001, p.52), a narrativa da nação, tal como é contada e recontada na mídia, ajuda a fornecer uma série de relatos, imagens, panoramas, cenários, eventos históricos, símbolos e rituais nacionais que simbolizam ou representam as experiências partilhadas, as perdas, os triunfos e os desastres que dão sentindo à nação. Como membro de tal "comunidade imaginada", ou seja, na revista Raça, os afro-descendentes se veem, dentro desta narrativa como compartilhando as semelhanças. Dando aos leitores um significado e importância à sua existência, conectando suas vidas cotidianas com um destino nacional. Para Habermas, permite pensar que:
[...] os seres humanos também buscam o entendimento e a comunicação e não somente a dominação. [...] se os agentes comunicativos querem executar os seus planos de ação em bom acordo, com base numa situação de ação definida em comum, eles têm que se entender acerca de algo no mundo (Habermas 1989, p.167).
E destaca (1989, p.92) que "[...] as regras do Discurso têm elas próprias um conteúdo normativo; elas neutralizam o desequilíbrio de poder e cuidam da igualdade de chances de impor os interesses próprios de cada um". Portanto, o discurso da revista Raça Brasil atuando de maneira crítica pode possibilitar aos leitores a uma consciência crítica da sua posição na sociedade, estimulando a iniciativa de combate ao racismo, exigindo medidas compensatórias visando amenizar a situação do povo negro e valorização da sua cultura. O ideal de uma ação comunicativa é, portanto que haja interação entre o emissor e o receptor. O mesmo autor (1989, p.79) chama "[...] comunicativas as interações nas quais as pessoas envolvidas se põem de acordo para coordenar seus planos de ação, o acordo alcançado em cada caso medindo-se pelo conhecimento intersubjetivo das pretensões de validez".
* Retirado da minha monografia: As representações
Sociais na Ressignificação da Identidade Ética do povo negro: no caso da revista
Raça Brasil. Defendida na semana da Consciência Negra
em 23 de novembro de 2006.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
A Identidade Étnica
Conforme Manuel Castells (2000, p.22) identidade pode ser entendida como "a fonte de significado e experiências de um povo":
[...] entendo por identidade o processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual (ais) prevalece (m) sobre outras fontes de significado. Para um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas (Castells 2000, p.22).
A identidade como processo, portanto, se constrói no coletivo, não é um ato individual, porque, segundo Castells (2000, p.23) "vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso." Portanto, a construção da identidade se dá na sociedade e está ligada à estrutura social, faz parte de tudo que tem significado para o coletivo.
Há uma tendência muito grande à fragmentação, o que impede a identidade, e nesse sentido a institucionalização é importante para transmitir ideias, projetos e suas representações. Na época de Moscovici uma das grandes preocupações era a popularização das ciências e entender como o saber científico se transforma em senso comum. Mas na verdade, o que se discute ainda é como o saber se transforma em relação aos outros saberes. Conforme Vassalo de Lopes:
"As identidades coletivas são sistemas de reconhecimento e diferenciação simbólicos das classes e dos grupos sociais e a comunicação emerge como espaço-chave na construção-reconstrução dessas identidades. Por outro lado, a relação conflitiva e enriquecedora com os "outros" permite elaborar estratégias de resistência ao que de dominação disfarçada existe na ideia de desenvolvimento e modernização" (Vassalo de Lopes, 2005, p.221).
Pode-se argumentar também que a identidade está sempre enraizada numa cultura. É quase impossível pensar, por isso, numa identidade única, mas sim em identidades de caráter diversificado e múltiplo, justamente pelo grande número de elementos que as constituem.
A revista Raça neste contexto, tem criado representações significativas na formação da identidade. Enquanto mídia tenta incorporar as preocupações de ordem econômica, política e social da população negra. Por meio dos seus artigos a revista tenta acompanhar o cotidiano e a trajetória da ancestralidade do seu público-alvo, tentando mostrar através das suas publicações a vida em "comum" de milhares de negros, fazendo os leitores se verem nessa narrativa e se sentirem semelhantes operando como um espelho onde eles possam se ver e refletir o espaço a sua volta, construindo uma identidade nos leitores, o que podemos chamar de uma identidade étnica.
Roberto Oliveira (1976) explica que é importante ressaltar que "identidade étnica" e "etnia" são termos que só podem ser usados, só fazem sentindo, quando há convivência de diferentes grupos étnicos na mesma nação, o que difere da convivência entre nações majoritárias e portadores de padrões de relação complexos.
A identidade étnica só se estabelece nas relações interétnicas que, por sua vez, apresentam-se como um fenômeno social complexo, formado, pelo menos, por três aspectos: o da identidade, que tem um domínio ideológico, o do grupo social, cujo domínio é a organização e o da articulação social, cujo domínio é o processo (de relações sociais), que tem lugar em uma dada formação social. "Se acrescentamos a cada um destes termos a palavra étnico, teremos: identidade étnica, grupo étnico e processo de articulação étnica", (OLIVEIRA, 1976).
A identificação de uma pessoa com aspectos culturais de um grupo possibilita-lhe sua identificação étnica, que Oliveira compreende como: ... "uso que uma pessoa faz de termos "raciais", nacionais ou religiosos para identificar e, desse modo relacionar-se aos outros" (OLIVEIRA, 1976, p.3). É na forma como os indivíduos assumem essa identificação nas diversas situações reais e os outros lhe atribuem esse pertencimento, que surge a identidade étnica.
A revista Raça tenta mostrar esta identidade étnica procurando dar-lhes visibilidade, discutir, fazer refletir e tentar transformar a vida dos afro-brasileiros. Na análise do discurso será mostrada como esta identidade cultural/racial está sendo representada na Raça Brasil, analisando o papel desta revista e dividindo o discurso em categorias: Estética, Cultura, Política e Social.
* Retirado da minha monografia: As representações
Sociais na Ressignificação da Identidade Ética do povo negro: no caso da revista
Raça Brasil. Defendida na semana da Consciência Negra
em 23 de novembro de 2006.
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