Conforme Manuel Castells (2000, p.22) identidade pode ser entendida como "a fonte de significado e experiências de um povo":
[...] entendo por identidade o processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual (ais) prevalece (m) sobre outras fontes de significado. Para um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas (Castells 2000, p.22).
A identidade como processo, portanto, se constrói no coletivo, não é um ato individual, porque, segundo Castells (2000, p.23) "vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso." Portanto, a construção da identidade se dá na sociedade e está ligada à estrutura social, faz parte de tudo que tem significado para o coletivo.
Há uma tendência muito grande à fragmentação, o que impede a identidade, e nesse sentido a institucionalização é importante para transmitir ideias, projetos e suas representações. Na época de Moscovici uma das grandes preocupações era a popularização das ciências e entender como o saber científico se transforma em senso comum. Mas na verdade, o que se discute ainda é como o saber se transforma em relação aos outros saberes. Conforme Vassalo de Lopes:
"As identidades coletivas são sistemas de reconhecimento e diferenciação simbólicos das classes e dos grupos sociais e a comunicação emerge como espaço-chave na construção-reconstrução dessas identidades. Por outro lado, a relação conflitiva e enriquecedora com os "outros" permite elaborar estratégias de resistência ao que de dominação disfarçada existe na ideia de desenvolvimento e modernização" (Vassalo de Lopes, 2005, p.221).
Pode-se argumentar também que a identidade está sempre enraizada numa cultura. É quase impossível pensar, por isso, numa identidade única, mas sim em identidades de caráter diversificado e múltiplo, justamente pelo grande número de elementos que as constituem.
A revista Raça neste contexto, tem criado representações significativas na formação da identidade. Enquanto mídia tenta incorporar as preocupações de ordem econômica, política e social da população negra. Por meio dos seus artigos a revista tenta acompanhar o cotidiano e a trajetória da ancestralidade do seu público-alvo, tentando mostrar através das suas publicações a vida em "comum" de milhares de negros, fazendo os leitores se verem nessa narrativa e se sentirem semelhantes operando como um espelho onde eles possam se ver e refletir o espaço a sua volta, construindo uma identidade nos leitores, o que podemos chamar de uma identidade étnica.
Roberto Oliveira (1976) explica que é importante ressaltar que "identidade étnica" e "etnia" são termos que só podem ser usados, só fazem sentindo, quando há convivência de diferentes grupos étnicos na mesma nação, o que difere da convivência entre nações majoritárias e portadores de padrões de relação complexos.
A identidade étnica só se estabelece nas relações interétnicas que, por sua vez, apresentam-se como um fenômeno social complexo, formado, pelo menos, por três aspectos: o da identidade, que tem um domínio ideológico, o do grupo social, cujo domínio é a organização e o da articulação social, cujo domínio é o processo (de relações sociais), que tem lugar em uma dada formação social. "Se acrescentamos a cada um destes termos a palavra étnico, teremos: identidade étnica, grupo étnico e processo de articulação étnica", (OLIVEIRA, 1976).
A identificação de uma pessoa com aspectos culturais de um grupo possibilita-lhe sua identificação étnica, que Oliveira compreende como: ... "uso que uma pessoa faz de termos "raciais", nacionais ou religiosos para identificar e, desse modo relacionar-se aos outros" (OLIVEIRA, 1976, p.3). É na forma como os indivíduos assumem essa identificação nas diversas situações reais e os outros lhe atribuem esse pertencimento, que surge a identidade étnica.
A revista Raça tenta mostrar esta identidade étnica procurando dar-lhes visibilidade, discutir, fazer refletir e tentar transformar a vida dos afro-brasileiros. Na análise do discurso será mostrada como esta identidade cultural/racial está sendo representada na Raça Brasil, analisando o papel desta revista e dividindo o discurso em categorias: Estética, Cultura, Política e Social.
* Retirado da minha monografia: As representações
Sociais na Ressignificação da Identidade Ética do povo negro: no caso da revista
Raça Brasil. Defendida na semana da Consciência Negra
em 23 de novembro de 2006.
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